Saraiva.com - Como você acha
que as pessoas o imaginam? Maia - Com certeza a imagem que se forma na cabeça
dos ouvintes é a de uma pessoa estereotipada, muito irreverente, com cabelos compridos e roupas extravagantes, mas na verdade
eu sou uma pessoa normal. Não é porque o sujeito gosta de rock que ele tem que ter um visual de rock.
Saraiva.com - Mas você já teve esse visual? Você já foi a cara do rock?
Maia - Antes de mais nada é preciso lembrar que o rock não foi sempre essa
imagem de hoje, de cabelos compridos, roupas escuras e peso nas guitarras. Nos anos 50 o visual do rock era diferente do que
foi em 60, 70, 80 e assim por diante. É claro que eu nunca quis ter uma imagem caricata de extremismos. Eu tive cabelo comprido
na década de 70, mas depois fui cortando porque não havia como conciliar o trabalho com a paixão pelo rock. A verdade, hoje,
é que um estudioso da música, como eu me considero, não pode se deixar levar pela paixão simplesmente. É preciso de mais senso
crítico e razão.
Nesse momento foi necessário fazer silêncio no estúdio porque
o programa estava voltando ao ar. Com a simplicidade de quem poderia fazer aquilo de olhos fechados, Tatola apertava botões,
soltava vinhetas e propagandas, ao mesmo tempo que apresentava os novos lançamentos do dia: "Contexto", do Planet Hemp, e
"Pode Ser", de Toni Platão.
Saraiva.com - Como você consegue se manter atualizado? Quais são suas fontes? Maia -
É uma questão de paixão. Sou incansável. É o gosto de ir atrás e comprar discos, freqüentar lojas, viajar para o Exterior
e comprar mais discos. Aquela coisa que você não consegue parar. No caso de bandas nacionais é até mais fácil de se manter
informado porque os músicos são meus amigos e muitas vezes a gente acaba ouvindo o trabalho nos ensaios, antes mesmo de chegar
para as gravadoras.
Saraiva.com - Quantos CDs você tem? Já ouviu todos?
Maia - Eu tenho um problema grave quanto a isso. Acho até que eu tenho um
problema existencial. Meu acervo chega a 20 mil discos. Se eu for pensar em parar hoje para ouvir todos eles, mesmo que eu
faça isso ininterruptamente eu não vou conseguir chegar ao final. Então eu não posso pensar nisso. O impulso é muito grande
para quem adora música. Nesse lance eu acabo comprando e ouvindo música por amostragem.
Saraiva.com -
Pode acontecer, então, de você comprar um CD, ouvir logo de cara
uma faixa ruim e acabar deixando de ouvir uma música boa que estivesse em outra faixa? Maia
- Pode acontecer. Mas é por isso que eu acho importante o nosso papel, meu e do Tatola como radialistas. Nós temos
o dever de informar o que existe de bom no mercado, justamente para que as pessoas saibam o que vale a pena ouvir. Eu costumo
dizer que existe a Lei do Single. Se a faixa determinada pela gravadora como a música de trabalho do disco não for legal,
pode até existir outras coisas melhores naquele CD, mas ele estará fadado a encalhar nas prateleiras das lojas.
Saraiva.com - Como você consegue analisar se uma música é boa ou não? Muitas vezes nós ouvimos bandas que parecem chatas,
mas depois acabamos nos rendendo à qualidade do trabalho. Isso pode acontecer? Maia
- Isso faz parte da experiência. A primeira impressão de uma pessoa que escuta música sem compromisso não é igual
à primeira impressão de um estudioso, que deve ter o ouvido treinado para perceber o que há de novo. Nossa função é descobrir
novas sonoridades que podem determinar tendências. Isso só acontece quando você dedica muito tempo da sua vida a ouvir música.
Nesse momento o programa entrava com os comentários do ouvintes
sobre as novas músicas apresentadas. "Contexto", do novo CD do Planet Hemp, era a preferida, talvez até por ser um grupo mais
conhecido do público. Para aqueles que não sabiam, Maia logo deu uma aula ao apresentar o outro convidado do programa.
"Toni Platão era vocalista de uma banda que tocou nos anos 80, chamada Hogeriza", disparou. "Eles fizeram muito sucesso no
Circo Voador, lá no Rio de Janeiro, junto com a turma do Asdrubal Trouxe o Trombone".
Saraiva.com -
Como
se porta o crítico musical diante de uma transformação como a do U2? Alguns fãs acharam aquilo um absurdo, mas você apoiou
a mudança. Por que? Maia - O trabalho profissional de um crítico depende obviamente
de um toque do seu gosto pessoal. Eu acho legal quando as bandas realizam mudanças, mas também me agradam aqueles grupos de
heavy metal, por exemplo, que seguem a mesma tendência durante toda a carreira. Você já imaginou o choque que seria se um
dia o Iron Maiden decidisse colocar um toque eletrônico em suas músicas. Seria o caos. No caso do U2, que é uma banda de massa
e tem um forte apelo pop, não dá para continuar fazendo o mesmo disco que eles fizeram nos anos 80, apesar de eu, pessoalmente,
preferir aquele estilo do início de carreira. O fato é que eles cresceram tanto, que não dava mais para continuar fazendo
shows somente com baixo, guitarra e bateria. Era preciso conquistar novos fãs.
Saraiva.com - Como
uma banda pode dar esse passo para a mudança sem perder público? Maia - A
situação hoje é um pouco diferente. É muito difícil vermos bandas que durem mais do que quatro ou cinco anos. O Oasis, por
exemplo, que já não sabe mais o que fazer para se manter em evidência, precisa continuar no mesmo estilo porque não tem como
mudar. Já no caso do U2, só para fazermos uma análise, foi uma banda que atravessou décadas e por isso mesmo teve a oportunidade
de realizar essas mudanças.
Saraiva.com - Essa
pergunta não poderia faltar. Qual a sua banda de cabeceira? Maia - Bom, isso
não tem jeito. Eu considero banda de cabeceira aquela que a gente curtiu na melhor época da nossa vida e isso quase sempre
acontece na adolescência, quando rolam as descobertas. Para mim, nada se compara àquelas bandas que eu ouvi na década de 60
e 70, como Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix, The Doors...
Saraiva.com -
Para o próximo Rock in Rio, quais bandas você gostaria de ver? Maia - É preciso definir que quem vai estar lá são adolescentes, então, nada mais justo do que
termos bandas que fazem a cabeça da meninada hoje em dia. Não teria sentido colocarmos Iron Maiden, ACDC, ou outros mais antigos.
Acho que o Rock in Rio deve ser um show para mostrar o que há de novo, ou então uma grande mistura como um festival de tendências.
Saraiva.com -
Vocês têm temperamentos diferentes. Como é que isso funciona durante o programa? Nesse
momento o Tatola não resistiu e interveio dando a resposta Tatola - Isso era necessário.
Se o programa fosse apresentado só pelo Maia, nós teríamos que mudar o nome do programa de "Lançamento Nosso de Cada Dia"
para "Cemitério Nosso de Cada Dia". O Maia às vezes parece que está morrendo quando fala, então precisava que eu participasse
e desse um pouco de vida. (risos)
Todo mundo sabe que o Tatola tem uma banda.
Você ia assistir aos shows dele? Maia - Eu realmente compareci a alguns shows
do "Não Religião", inclusive, veja como são essas coisas de colecionador, outro dia eu estava mexendo nas minhas gavetas e
encontrei uma credencial para o show do Tatola. Era bom. Mais uma vez o Tatola entrou na história. Ia só aos
shows não. O Maia era meu fã e pedia autógrafo e tudo mais.
Saraiva.com -
E você não tem medo em saber que uma pessoa conhece tanto assim
da sua vida? Tatola - Fazer o que? Pelo tempo que nós passamos juntos aqui
na rádio eu também sei bastante da vida do Maia. Não chego a ficar preocupado com isso.
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